Eu estava há muito tempo longe de casa, sem me comunicar com ninguém, mas acho que foi preciso. Talvez até fundamental pra minha recuperação. Perder os meus pais daquela forma, quem poderia suportar? Só mesmo uma temporada na casa da minha avó na luminosa Paris seria capaz de me fazer suportar a dor que estava sentindo. Cortei contato com todos os que eu conhecia aqui. Tudo nesse lugar me fazia lembrar os meus amados pais e a última coisa de que queria me lembrar era de como eles me faziam falta. Agora eu estava voltando pro lugar onde eu morei por anos. Estava na hora de superar a dor. Eu tinha que ser forte o bastante pra encarar isso.
Quando o avião sobrevoava a região, imediatamente reconheci o lugar onde eu fui tão feliz. Aquele sol só poderia existir aqui. E não havia nada que eu gostasse mais do que o calor do sol, nem os charmosos caras franceses me fariam mudar de ideia. Senti algo no estômago, será que comi algo estragado? Não, devia ser apenas a ansiedade de encontrar os meus amigos e a família que me restou. Certamente tia Adele e Brigitte estariam no aeroporto me aguardando. Embora eu fosse maior de idade e fosse ficar no apartamento que eram dos meus pais sozinha. Ops! Sozinha não, tinha o chato do Pierre, o meu irmão mais velho. Duvido que ele fosse me buscar. Nós sempre brigamos muito, mas acho que no fundo nós nos amávamos.
- Melanie querida! – gritou tia Adele lá do outro lado do vidro, eu apenas acenei.
- Mel! – foi só o que minha prima Brigitte disse e logo me abraçou.
- Como é pirralha? A vovó está bem? – sim, Pierre tinha ido me buscar. Imagina se ele ia perder a oportunidade de me perturbar – essas malas são todas suas? Pelo visto você trouxe a Torre Eiffel na bagagem – ele disse.
- Fez boa viagem querida? – tia Adele tinha a mania insuportável de me chamar de querida.
- Fiz sim tia – respondi – vamos nos divertir muito juntas não é Brigitte? – disse isso e pisquei pra ela. Minha prima era minha companheira de balada, ela me entendia muito bem. Sair com ela era sempre bom, ela nunca me julgava quando eu saía com 3 caras ao mesmo tempo. Costumava dizer que estava com ela, enquanto na verdade eu estava por ai. E ela a mesma coisa. Brigitte não ficava atrás, a beleza era algo herdado de família. Embora eu me achasse muito mais bonita que ela, afinal eu era mais alta, mais magra, e mais rica, é claro!
- Tenho uma festa pra gente ir essa noite – Brigitte disse piscando pra mim.
- Opa! Festa? Mal cheguei, tem que ser Top, ou nem saio de casa.
- Claro que é top! Não se preocupe, você sabe como eu sou bem relacionada não é honey –disse sorrindo – Vai ser na casa do Henrique, você lembra dele? Aquele cara com óculos...
- Ecá! Na casa do Henrique? Você só pode estar de sacanagem com a minha cara – disse eu fazendo cara de quem ia vomitar.
- Calma, é que o Henrique está com um primo novo ai. E ele vai na festa, dizem que o cara é um gato! Um deus grego! Eu preciso conferir isso – disse ela toda animada.
- Se é primo do Henrique eu duvido muito que seja gato – eu disse descrente de que o tal cara fosse mesmo bonito do jeito que ela falava.
- Pelo menos é o que falam, todas as meninas morrem de amores por ele, inclusive a Carina.
- A Carina? Tadinha, ela sempre se apaixona pelos caras errados, se não fosse eu pra ficar do lado dela, não sei o que seria – e ri.
- Ela é uma tonta – e gargalhou.
- Não fale assim da minha amiga, só eu tenho o direito de zoar ela – e gargalhei também.
- Ela sentiu sua falta Melanie, sempre me perguntava por você. Te mandou cartas e você nunca as respondeu – disse o intrometido do Pierre, só pra estragar o clima.
- Eu não estava pronta pra falar com ninguém Pierre, tenho certeza que ela vai entender e me perdoar. Depois eu passo na casa dela pra conversarmos melhor – eu disse.
- Ah não! Amanhã você passa lá, hoje você tem que me ajudar a comprar um vestido incrível pra festa. E você já pensou como vai vestida? – Brigitte dizia isso como se no armário dele não houvesse um mísero vestido pra ir.
- Isso não é problema pra mim, honey, esqueceu que eu vim de Paris? – era óbvio que minha mala estava cheia das últimas tendências da Europa e que nem haviam chegado aqui ainda.
- Você não trouxe nada de especial pra sua querida e amada prima? – disse isso com olhos radiantes. Ela sabia que eu traria muitos presentes pra ela.
- É claro que trouxe, não se preocupe. Mas eu não me importo de dar uma volta no shopping pra comprarmos mais – eu disse rindo e já pegando o cartão de crédito.
Tia Adele nos deixou no shopping e segui com as malas, inclusive Pierre, pra casa. Assim que pisei no shopping a primeira coisa que avistei foi uma livraria. Carina adorava aquela livraria, ela passava horas lá escolhendo e devorando os livros, nunca vi ninguém gostar tanto de ler. Eu a acompanhava apenas pra olhar as revistas de moda e o gatinho que ficava tirando poeira dos livros.
- Adam! – eu disse suspirando.
- Quem? – minha prima perguntou.
- Não, ninguém, estava só pensando alto – Adam era lindo, viril, e incrivelmente bom de cama mas era pobre, e eu jamais poderia ser vista com um pobre. A Carina sempre nos encobria, ela era uma boa amiga, nunca revelou esse meu segredinho pra ninguém. Ri mentalmente. Carina era muito diferente de Brigitte, era bom estar com ela, eu não precisava ficar competindo o tempo todo. Com Brigitte sempre tinha aquela disputa velada entre qual prima se daria melhor.
- Você vai no segundo andar, certo? – perguntei à Brigitte.
- Sim – ela respondeu.
- Eu encontro você lá, vou só passar ali e comprar o jornal do dia, ok?
- Ok – ela respondeu com cara de assustada, como se eu nunca lesse jornal na vida. De fato, não lia, mas eu precisava de uma desculpa para ver o Adam.
Ele estava lá longe, no fundo da loja, de costas, espanando a poeira de uns livros. Senti meu coração disparar. Parei, respirei fundo e me aproximei, na esperança de que ele se lembrasse de mim. Lógico que ele se lembraria, ele não poderia ter esquecido dos nossos encontros.
- Adam – eu disse ao mesmo tempo que encostava minha mão no seu ombro largo. Ele se virou – ah! Me desculpa, acho que te confundi com um rapaz que trabalha nessa loja, deve ser o uniforme – e ri sem graça.
- ADAM! Você ainda tem essa pilha pra limpar! – gritou uma velhinha lá do outro lado.
- Não tem problema, como pode ver, você não é a única a me confundir com esse tal de Adam – disse sorrindo.
Senti minhas pernas bambas ao ver aquele sorriso, era do tipo de sorriso que ilumina o mundo. E aquele perfume? Uau! Aquele perfume me fez perder os poucos sentidos que me restaram.
- Bom, pelo o que eu sei, o Adam não trabalha mais aqui, e eu estou no lugar dele – ele disse lançando um sorriso de lado ao mesmo tempo que me dava a notícia meio sem jeito. Eu estava completamente dominada pelo jeito encantador dele. E os olhos? Que olhos! Grandes, como jabuticabas, porém eram azuis. Comei a me sentir tonta, acho que foi porque eu me esqueci de respirar. O que estava acontecendo comigo?
- Ah, que pena – eu disse lamentando, mas no fundo eu não lamentava nada, só pensava na sorte que foi.
- Eu também não sei onde você pode encontrar ele, talvez se você perguntar pra dona Ruth ela saiba te dizer – ele disse tentando me ajudar. Mal sabia ele que eu não queria ajuda, eu não precisava mais do Adam, eu tinha a versão melhorada do Adam, só faltava saber se ele era bom de cama, mas bem, isso não ia demorar muito tempo.
- Na verdade, eu só estava procurando o Adam, porque ele disse que tinha um livro no estoque que eu queria muito ler, será que você pode pegar pra mim? – eu disse sorrindo e lançando o meu olhar mais penetrante possível.
- Claro, só me dizer o nome do livro – ele não parava de sorrir, parecia ter grudado durex na bochecha.
- Ah, é que eu não me lembro o nome, mas eu me lembro da capa. É uma rosa com escrita em azul – ele fez sinal de que não sabia qual livro era enquanto eu dava a descrição – Talvez se você me deixar olhar o estoque eu ache.
- Não sei se clientes podem ir no estoque – ele me disse sem graça.
- Por favor – me aproximei, pude sentir o hálito refrescante de hortelã, vindo da boca dele. Senti que de alguma forma ele também se sentia atraído por mim, mas relutava a sentir isso. Geralmente os homens não relutavam, eles caíam aos meus pés.
- Ok, eu vou te ajudar, mas a dona Ruth não pode saber.
- Ela não vai saber, prometo. Será o nosso segredo – disse isso e pisquei pra ele. Senti que ele ia babar, homens!
- continua -